A transformação do mundo em meio dessa pandemia exige das empresas e pessoas capacidade de adaptação a esse novo mercado. É preciso pensar em novas soluções, pensar no futuro com criatividade e paixão, mudar o mindset. Os novos líderes tem que entender as mudanças nas necessidades, no comportamento dos consumidores, repensar valores, buscar o propósito da empresa e o próprio, com harmonia, pensando no bem comum.
No evento do e-WMS, alguns líderes de marketing abordaram esses temas em suas palestras. Aqui trago um pouco da mensagem apresentada por eles.
O líder criativo
Jonathan Deacon, professor de Marketing na Universidade de South Wales, Inglaterra, comentou das novas regras dos negócios pós Covid-19. Nessas regras ele traz os negócios incomuns. Isso surge, pois a tecnologia, sociedade e os modelos de negócios estão evoluindo em um ritmo sem precedentes. Contudo, as empresas continuam com pensamentos antigos para resolver problemas futuros.
Para Deacon, é preciso encarar a tempestade e usar o seu poder. Sugere coisas a se pensar no futuro próximo. Uma delas é a criatividade, que seria ter habilidades em resolver problemas, inteligência. É preciso ser um líder criativo, com paixão e propósito, um mindset explorativo, pensando fora da caixa e saindo da zona de conforto. Outro ponto é ter uma equipe criativa. Além disso, é preciso fazer alguma coisa grande para a organização e pessoas que negocia.
É preciso, também, pensar nas pessoas, nas tribos e personas, pois somos dirigidos por tribos. Mapear as experiências dos usuários, o seu comportamento, para entender e trabalhar na colaboração das pessoas para a empresa. Ao criar uma persona, criar empatia. Perceber o que essa persona fala, o que sente, o que pensa e o que faz.
A comunicação com essas tribos é feita pela hiper individualização. As histórias devem ser valiosas. O marketing deve adicionar valor em 2012, priorizar as pessoas ao invés das coisas.
Nova hierarquia de necessidades
Sandra Vandermerwer, consultora e professora no Imperial College London, no Gordon Institute of Business Studies (GIBS), Universidade de Pretória, e na ESMT, Alemanha, trouxe sobre o próximo consumidor. Assim como Deacon, ela acredita que a pandemia tem levado a novas inovações e que as coisas não serão mais como antes.
Isto leva a uma nova hierarquia de necessidades (Maslow). A necessidade básica hoje é o acesso. Ela considera como sendo a contingência, o ter acesso ao que precisa agora, assim como para futuros eventos e circunstâncias. Ainda como necessidade básica, teria a resiliência, estar melhor preparada, estar protegido, reduzindo riscos e demandando transparência.
Como necessidades sociais, fala do networking e afinidades, da conexão das pessoas e das coisas que ajudam a funcionar bem. Também a proposta e inspiração. Ser inspirada e inspirar as outras pessoas. Já nas necessidades superiores, tem a auto sustentação, com o empoderamento e o controle do seu destino. E o serviço no sentido da colaboração, compartilhamento e contribuição para a comunidade, causas e o universo.
Novas necessidades pós Covid-19
Vandermerwer traz as principais assunções dessa nova realidade na hierarquia. Uma delas é que todos trabalham em todos os níveis, em uma menor ou maior extensão. Que os pontos cobertos aplicam-se globalmente, mas precisam de adaptações locais. Todos os grupos socioeconômicos são afetados pelas novas necessidades e tendências, no entanto, o comportamento pode se manifestar de forma diferente. E por fim, enquanto uma crise tende a enfatizar as necessidades mais baixas, todas as necessidades irão surgir.
Algumas questões que aparecem nas necessidades básicas de contingência seriam acesso a serviços financeiros, alternativas de serviços de pagamento, flexibilidade nos espaços de casa com espaços híbridos, higiene como a nova saúde. Nas de resiliência, novos sistemas de entrega online e offline, streaming e live streaming, inovações em saúde, serviços financeiros digitais, ginástica online, turismo doméstico.
Já no networking, nas necessidades sociais, ferramentas de comunicação compartilhadas, comunidades digitais, experiência digital, compra e imersão virtual. Na proposta e afirmação, uso das mídias sociais para se afirmar e ser afirmado, afirmação de marca, novos heróis e influenciadores, inclusividade.
Na auto sustentação, educação online, micro agricultura em casa, infraestrutura para vida virtual, redefinição dos resíduos como ativos. E em serviços, novos programas de lealdade, compartilhar, doar e realocar, novas normas sociais, consideração de consumo e inovações em smart cities e espaços públicos. É preciso se adaptar a essas novas necessidades para não se tornar irrelevante no mercado.
Ganhar vantagem competitiva no novo normal
Michael Jacobids, Consultor Acadêmico do Boston Consulting Group e Professor de Estratégia na London Business School apresentou três passos para ganhar vantagem com esse novo normal, que são: reavaliar, reconfigurar e realocar. De acordo com sua palestra, as crises, normalmente, geram mudanças duradouras.
Reavaliar os negócios pode gerar crescimento de oportunidades. Reconfigurar o seu negócio é necessário para atender essas oportunidades. E, é preciso realocar, distribuir o capital mais efetivamente.
É necessário ver além da previsão de tendências para moldar os novos comportamentos. Repensar o seu valor agregado para esse novo cliente centralizado. Repensar seus pontos de contatos, seus canais. Redefinir parceiros e seu ecossistema, rever seu foco nos públicos-alvos e nichos.
Mundo VUCA
Velimir Srica, consultor e professor na Faculdade de Economia da Universidade de Zagreb, além de Especialista em Gestão de Mudanças do Banco Mundial, apresentou como as soluções de IoT podem melhorar os valores de negócios fundamentais. Para Srica os obstáculos devem ser vistos como desafios e as crises serem transformadas em oportunidades.
O mundo é complicado e estamos vivendo no que chamamos de VUCA. Um mundo com volatilidade, incertezas (uncertainty), complexidade e ambiguidade. Conforme Srica, VUCA em Zulu significa “to wake up” (acordar). E sim, precisamos acordar para esse momentos de disrupção. Nesse sentido, a Covid-19 trouxe mudanças perturbadoras no mundo todo. E o digital está comandando o mundo.
Conforme a Pew Research, 57% dos adolescentes encontram amigos online e somente 20% decide encontrá-lo pessoalmente. A nova geração passa mais de 4h por dia no smartphone. Pelo avanço do mundo digital e as mudanças surgidas com a pandemia, precisamos criar uma mentalidade de harmonia estratégica ao invés do conflito. Essa estratégia deve estar presente para todos os stakeholders.
A harmonia estratégica
A harmonia estratégica pressupõe:
- Líderes são importantes – bons líderes são capazes de mudar um curso, inovar, lutar por mudanças, aceitar riscos;
- Aprenda e desaprenda – o problema não é conseguir novos e inovadores pensamentos em sua mente, mas sim como se livrar dos antigos;
- Valorize a franqueza e confiança – franqueza leva as pessoas a conversarem, trazer mais ideias e resolver problemas;
- Cultive a paixão – quando as pessoas estão apaixonadas pelos problemas que tem que resolver, elas ficam mais energizadas para qualquer desafio que aparecer;
- Valorize a empatia – te permite reconhecer e entender as emoções, necessidades e pensamentos das outras pessoas;
- Iniciativa de valor – matar a hierarquia e ter iniciativas que agradam ao cliente, ao colega, ao chefe, todos a sua volta;
- Pense Kaizen – pense positivo – se estiver ruim, é preciso mudar. Se estiver bom, mas pode ser melhor, teremos que querer mudar. Se concentre no que pode ser feito;
- Tome riscos calculados – é preciso encorajar as falhas, com risco calculado. Sem isso, não é possível criar mudanças;
- Crie um espírito ganha-ganha – desista da sua proposta e procure soluções que possam ser melhores que qualquer uma das propostas;
- Ame o que você faz – com paixão, entusiasmo, engajamento, compromisso, determinação para fazer a diferença.
A estratégia harmônica precisa dos valores TEST. Esses valores, que também foram abordados na palestra de Ira Kaufman, coautor do livro “Empower Us: from crisis to strategic harmony”, são: confiança (Trust), empatia (Emphaty), sustentabilidade (Sustentability) e transparência (Transparency).
Os novos líderes
Falando em bons líderes, Jennifer Aaker, Psicóloga Social e prof. de Marketing na Stanford Graduate School of Business, fala de um novo tipo de líder. Um líder com proposta, humor e amor.
Conforme Aaker, está havendo uma transformação massiva. Os propósitos das empresas estão mudando, e o propósito é importante quando a confiança é baixa e a confusão reina. Portanto, os profissionais de marketing devem olhar além dos valores dos stakeholders.
É preciso entender melhor o significado da vida, nos conectarmos com os nossos próprios valores, ver o que faz nossa vida significativa. Em tempos de mudanças, o propósito traz claridade. No entanto, é preciso estar aberto a mudanças, ter ousadia, crescer e questionar o status quo.
Precisamos ser mais e amar. Esperamos que o cliente e os empregados amem a nossa empresa. E, um líder precisa demonstrar comportamentos positivos, amar o que faz e com quem faz. Se mostrar humano. A empresa precisa se parecer mas com o ser humano, cuidar profundamente de cada um.
Se pergunte: “o que você ama fazer?” Ria mais generosamente. Se ancore em significado e propósito. Preencha-se de humor e conhecimento. Ame os empregados, os clientes e a sociedade.
Percebe-se com as palestras dessas personalidades que o papel dos líderes é fundamental para avançarmos nesse momento crítico, como o que estamos vivendo com a Covid-19. O propósito é essencial para manter a harmonia e estabelecer o melhor para todos. É preciso criar sentido, colaboração e entender as novas necessidades que surgiram. E com paixão e criatividade é possível vencer os obstáculos.