Skip to main content

O Futuro do Marketing, por Philip Kotler

Em novembro de 2021 aconteceu mais uma edição do World Marketing Summit versão online (eWMS) por Philip Kotler. Nesse evento, que traz os maiores especialistas de marketing e negócios do mundo, Kotler trouxe a sua visão para o futuro do Marketing.

Na sua percepção, mesmo no pós-pandemia, teremos muitos desafios no mercado, além das questões de mudanças climáticas. Não temos como prever com precisão sobre o futuro, no entanto, precisamos nos ver como criadores do futuro.

Percepções do futuro no marketing e negócios

Para o futuro, poderemos vislumbrar diferentes cenários no pós-covid. No primeiro deles voltaríamos ao que era antes da pandemia, contudo com um crescimento modesto da economia.

No segundo cenário, teríamos um novo normal, com novas características, novos comportamentos e uma economia em crescimento. Nesse cenário mais pessoas trabalhariam home office, fariam mais atividades e entretenimento em casa.

O terceiro cenário teria uma economia crescendo fortemente direcionada para lutar contra a injustiça social, com aumento de taxas dos ricos, a exemplo dos países nórdicos.

E o quarto cenário prevê uma economia que busca uma redução do consumo para o bem do planeta. Teria redução de desperdício de comida, mudança para comportamentos mais saudáveis para si mesmo e para o planeta, gerando redução de produção de carbono.

Esses cenários alteram o marketing e os negócios.

Características dos negócios no pós-covid

Nesse evento, Kotler trouxe seu pensamento de como os negócios vão se comportar no pós-Covid. Entre suas constatações estão que mais empresas serão vulneráveis as disrupções dos negócios. Ao mesmo tempo, irão coletar mais dados detalhados dos clientes e aplicar o machine learning para produzir insights para o marketing.

Também surgirão mais startups que farão o marketing direto para o consumidor (D2C), pessoas que tendo um computador vendem seus produtos diretamente, desafiando os profissionais de marketing que estão baseados na loja e na marca. Outro ponto levantado é que as vendas online continuarão crescendo mais do que as da loja física.

A construção de marca não dependerá apenas do marketing tradicional. O crescimento das vendas vai depender mais da segmentação online e do marketing de mídias digitais. Existe, ainda, a tendência de fazer mais do trabalho de publicidade e promoção internamente.

Além disso, as empresas vão prestar mais atenção no ativismo da marca, se posicionar e até mesmo tornar públicas suas posições. Esse ativismo mostra que sua empresa se preocupa em fazer um mundo melhor. E faz se perguntar o que a sua empresa e marca está fazendo para construir confiança.

Características do consumidor no pós-covid

Como mudanças nas características do consumidor, Kotler apresenta algumas considerações. Uma delas é que o consumidor irá coletar muito mais informações sobre as empresa, seus produtos, reputação e avaliações antes de efetuar a compra.

Também, prestarão mais atenção nas questões de saúde e segurança no seu consumo e escolha das marcas. E terão em sua mente uma ideia mais clara da “bondade” das empresas que eles compram. Muitos irão preferir menos escolhas (não vão querer tantos produtos para escolher) e com custos mais baixos. Os consumidores se atentam ao que sua empresa é, com o que ela se preocupa e não somente com o que ela vende.

Além dessas preferências, haverá um aumento no número de consumidores que desejam viver com mais simplicidade e menor consumo. Adotarão mais bloqueios de anúncios e recusarão chamadas telefônicas não solicitadas. Com todas as mudanças nesse comportamento, os anúncios de TV vão ganhar cada vez menos atenção.

Empresas e uma nova definição de propósito

Os empresários tinham uma visão dos negócios na qual os recursos eram infinitos, que os desejos das pessoas também, e no contínuo crescimento da economia. Contudo, se percebe que essa visão está mudando. Nota-se que os recursos são limitados, que as pessoas procuram por mais disciplina e a economia não tem crescimento contínuo e muitas vezes precisa da interferência governamental.

Com isso, as empresas precisam substituir o seu pensamento linear de negócios, de fazer, vender e descartar, para um pensamento circular, de fazer, vender e reutilizar. Outrossim, reconhecer que é preciso manter nas pessoas um melhor equilíbrio entre o trabalho e a vida familiar e pensar nas preocupações sociais.

Problemas como o Covid, ou outras possíveis doenças, e as mudanças climáticas preocupam consumidores e empregados das empresas. Portanto, esses podem querer economizar mais e gastar menos. Isso remete cada vez mais a necessidade das empresas definirem o seu propósito com base no comportamento do seu cliente.

Novas tecnologias para o marketing

O marketing do futuro terá novas características e recursos, mas o papel e iniciativas do profissional de marketing ainda será oferecer o melhor para o cliente, a sociedade, a empresa, enfim, todos os stakeholders.

Inteligência artificial (IA), impressoras 3D, reconhecimento facial e de voz, Big Data e machine learning, robôs, chatbots, realidade virtual e aumentada, blockchains, internet das coisas (IOT), automação de marketing, máquinas autônomas, entre outras novas tecnologias vão dominar o marketing.

O profissional de marketing desenvolverá e contará mais com algoritmos para a tomada de decisão. Trabalhará com processos mais automatizados. Deverá usar mais métricas chaves para ver os resultados da empresa. E muitos produtos novos serão testados antes do lançamento através de ferramentas/simuladores de realidade virtual.

As empresas usarão mais ferramentas neurocientíficas para avaliar mensagem e mensageiros. No entanto, deverão ficar continuamente avaliando toda a jornada de compra e pontos de contato do cliente e ajustando o seu mix de produto e de marketing.

O futuro do Marketing: orientado para o ser humano

A tecnologia é essencial para os negócios e o marketing. Contudo, na era do Marketing 5.0, o marketing é cada vez mais orientado do humano para o humano, pessoas lidando com pessoas. E as campanhas publicitárias mais autênticas e verossímeis.

Em uma empresa de encantamento, o interesse de todos os stakeholders deve estar alinhado. As pessoas que trabalham devem ser apaixonadas pelos clientes e os fornecedores serem verdadeiros parceiros que colaboram com produtividade, qualidade e redução dos custos.

A cultura dessa corporação é seu maior ativo e fonte de vantagem competitiva. Os custos de marketing não são tão altos, mas a satisfação e retenção de clientes são maiores que a concorrência. Já os salários dos executivos são relativamente modestos, com compartilhamento de lucros com todos colaboradores e com política de portas abertas.

Muitas empresas já estão atuando nesse caminho, como a Unilever com seus valores e propostas que envolvem o planeta nos stakeholders, e busca se direcionar por propostas de rentabilidade, sustentabilidade e cuidados sociais e ambientais.

Outro exemplo, dado por Kotler, foi da YKK, companhia japonesa que detém o título de maior fabricante de zíperes do mundo, que tem como filosofia o ciclo de bondade. Esse ciclo, entre outras coisas, busca uma maior contribuição social. A loja Patagônia é outro exemplo de empresa que tem propósito e um marketing h2h.

Com as visões do futuro do marketing apresentadas por Kotler, percebemos que existem muitos desafios no mercado. Porém, que cabe a cada um de nós trabalharmos para construir não somente uma empresa e comunidade, mas um mundo melhor para todos.

Aline Autran de Morais

Mestre em Administração com linhas de pesquisa em Omnichannel; Inovação em Marketing para o varejo; Marketing Digital; Gestão de Fornecedores. Especialização em Marketing, MBA em Gestão de Varejo e Gestão Empresarial. Mais de 20 anos de experiência em varejo de moda, tendo atuado como Gerente de Produto e Gerente de Gestão de Fornecedores na Lojas Renner, Gerente de Supply e Operações na Uatt?. Sócia-proprietária da Ideiamais. Professora na ESPM Porto Alegre e PUCRS.